23 de março de 2009

Portugal

Na esquina da cidade dorme um mendigo e por ele passam várias pessoas olhando-o enojadas e perdidas nas suas indiferenças.
A chuva cai lá fora, à janela a roupa estendida voa e uma mulher grita para a vizinha: “Oh filha, o S.Pedro hoje está furioso!”
O cheiro a peixe sobrevoa os ares e nos cafés os velhos senhores da mini e do bagaço olham as ruas povoadas por corpos sem destino.
Uma mulher senta-se na areia e olha o mar com as saudades do que ainda não viveu.
Ao fundo ouve-se a voz da fadista que apregoa aos sete ventos a vida que já passou.
Tristes são os olhos dos poetas que perdidos neste país não se querem mostrar e tristes são os que se mostram e nada têm.
Um casal espera o primeiro filho, uma mãe grita com outro e o marido já cansado procura outro corpo fora de casa.
As mentiras são parte de um país que se finge triste e o pecado esconde-se por baixo de cada cama.
Somos doentes, doentes de espírito, doentes em desejos que não alcançamos, doentes porque um dia o mundo nos foi prometido.

Sara Almeida

1 lógica(s):

PEdro disse...

é a sociedade que criámos. será o modelo que melhor se adapta aos desejos de cada um? por vezes sentimo-nos presos a um caminho que não queriamos nosso.
gostei mto. bjos