A Bed Time Story
Na rua lá ao fundo havia uma sombra que tremia quando a noite passava.
Eu era criança e chorava ao colo da minha mãe, pedia-lhe sempre atenção através das birras constantes e dos gritos apavorados.
Coitada da minha mãe que me aturava nesses meus sonhos perdidos de criança e nas mil e uma tentativas de lhe segurar o peito.
Eu não tinha mais que 6 anos e juntamente com uma intensa vontade de me despegar do mundo havia uma outra vontade de o segurar nas minhas mãos.
Que miúda curiosa! – diziam eles .
E eu lá continuava imersa nos meus pensamentos de menina atormentada e esperançosa de que o mundo não fosse só aquilo.
Todos os dias acordava de um sono que não dormia, durante a noite perdia-me nos vários bonecos que se encontravam no meu quarto e pedia-lhes que se virassem e não me olhassem. Durante a noite eu vivia apavorada e enrolava-me nos lençóis e tapava os ouvidos na esperança de não ouvir a madrugada passar.
Filha, outra vez?! – praticamente todos os dias eu ouvia esta frase depois de deixar a cama molhada.
Os anos passaram mas as mesmas esperanças e medos continuam durante as madrugadas.
Hoje, não me enrolo nos lençóis nem tapo os ouvidos.
Hoje, abro os olhos e revivo-me nas sombras que tremem nessas noites que não durmo.
Sara Almeida
9 de fevereiro de 2009
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Fizeste-me lembrar quando era eu a colocar-me totalmente coberto pelos lençóis, também de ouvidos tapados e a espernear para afastar os meus pensamentos, com esperança que isso também me fosse cansar e fazer adormecer mais depressa.
Depois crescemos e começamos a enfrentar os nossos medos. Permite-nos a sensação de liberdade e aventura.
Em Aveiro há um local onde adoro ir à noite – não resisti a cravar a um amigo meu que lá me levasse, da última vez que lá estive. Perto do farol existe um paredão extensíssimo que entra pelo mar dentro. Sem luz, caminhar no escuro em direcção ao mar, sem conseguir ver onde acaba, a ouvir as ondas baterem, olhar o céu estrelado a toda a volta, olhar para trás e ver que ficámos longe de tudo (de tudo!)…
Aquilo que outrora despertava curiosidade e medo, enche-nos agora o espírito quando, indo à descoberta, o enfrentamos.
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