18 de fevereiro de 2009

Quase todas as mulheres, quando chegam à fase de “jovens adultas” têm um suposto relógio biológico que lhes diz que está na altura de serem Mães (esse grande palavrão que pode assustar os mais susceptíveis).
Um dia de manhã, aquando de uma espera interminável para uma consulta médica, pus-me a observar os vários rostos que se apresentavam no palco que construira propositadamente para eles. Eram praticamente todas mulheres (estavámos na parte da maternidade) e caracterizavam-se principalmente pelas grandes barrigas de gravidez e bébés ao colo.
De um lado ouvia os choros e do outro ouvia os risos das mães a aconchegarem os filhos, é tão bonito mas porque é que eu não consigo sentir qualquer desejo de ter um filho?
Acho perfeito o ideal da criança e do fruto que nasce de um amor mas cada vez mais me vejo como a egoísta que prefere as suas viagens e a sua independência, a ter que ficar dependente de um ser indefeso.
Vamos saltar a parte de ter filhos e vamos ter netos primeiro! É realmente impossível isto acontecer mas é como eu me vejo daqui a muitos anos, rodeada de netos e crianças a quem conto as minhas histórias de jovem inconsciente e de adulta realizada.
Quero amar crianças mas não cuidar delas enquanto mãe, faz-me sentir sufocada e presa aos rituais que não sinto.
Há quase como uma consciência do futuro e esta influencia-me em cada passo que dou na tentativa de me construir enquanto Mulher.
Admiro a mulher por ter essa capacidade de ser força em movimento mas penso que esse relógio biológico que falei serve como desculpa aquilo que lhes é incutido socialmente desde o momento em que nascem.
Peço desculpa por não conseguir seguir estas convenções, no entanto, continuo a sentir-me honrada por ter nascido com a capacidade de dar à luz.

Sara Almeida

5 lógica(s):

Maria disse...

Apesar dos cafés combinados, dos longos meses sem nos cruzarmos... apesar de começar este comentário por apesar, não é nada de pesar nisto que vamos vivendo. É só o tempo a criar fossas entre nós. Fossas que vamos pavimentando e esquecendo também porque o que partilhámos foi tão importante que permanece mesmo que ainda falta aquele bocadinho para ser realmente Importante. E então, somos umas sortudas por cá andarmos. E depois é encontrar-te no bairro, dentro do Clandestino que nos acolhe há tanto tempo. Onde, à sua porta, os nossos nomes e datas ficaram escrevinhados. Onde berrámos as letras de Pearl Jam, onde se escreveram poemas, onde os olhares foram trocados por pessoas que estão só a tentar perceber o que é viver. Onde, mais tarde, te reencontro e te digo que tive um dos maiores sustos da minha vida, onde for e que te oiça chamar "Mariaaa" ou "Maria Ceição" ahaha ou que quer que seja é o onde for. Mesmo.

Sobre o que escreveste não sei se estou cá para avó, mas gostava imenso também. Mas se tiver filhos, sou daquelas pessoas irritantes que já escolheu nomes. Nem que os adopte, ora.

Um beijo à Sara.

PEdro disse...

Bebés, Sara! Bebés!!! :)
Olha lá.. tu sabes que idade é que tens? (Pausa para ir ver ao hi5)..
Ai!.. dor! :P

É normal que ainda não sintas aquele instinto. Tens tempo. O ponteiro ainda não chegou à hora certa.

Realmente, os primeiros tempos de mamã vão ser conturbados. Os primeiros anos! E um ano ainda é um monte de dias! E não estamos a falar de um ano.. são ALGUNS anos! Xiii.. tantos diaaaaaaaaas!!!.. Uma prova de resistência daquelas.. sem direito a desistir a meio!..
Agora, deixa-a começar.. e por certo descobrirás que nunca tiveste um dia tão perfeito como aquele em que antes de adormecer vês o rosto da tua filha (ou filho..). Que, por ela (ou ele!) não só abdicarias dos copos como da tua vida, se fosse preciso.

Que sentido tem a nossa vida se quando partirmos não deixarmos cá um pouquinho de nós?
Se viesse a não ter filhos, acho que colocaria em causa o sentido da vida.
Imagino que ter um filho seja como começar a ver o mundo com clareza, libertar-me de toda e qualquer névoa. Deve ser o sentimento mais avassaladoramente real e altruísta que existe. Amor incondicional!

Imagina poderes criar um ser humano desde que nasce. Passar-lhe todos os ensinamentos que achas que vão fazer dele uma pessoa especial, poderes preveni-lo de todos os erros que cometeste, fazer dele uma pessoa melhor e mais forte que tu..

Enfim, não me vou aqui alongar!

Uma coisa é certa, TU não teres filhos, devia ser proibido! Livra-te de não deixar neste mundo pelo menos UM daqueles seres com duas perninhas e dois bracinhos (se Deus quiser).. que em dias choram sem esperança no mundo e na vida e noutros riem só porque sim, só por que existem. Donos de uma força capaz de mudar o mundo e sensíveis à sua mais pequena insignificância. Que em dias vão magoar outros seres, por vezes até sem se darem conta disso, mas que noutros vão ser o seu ombro amigo e alegria.. e até companheiros de uma vida! Seres tão únicos.. Cada um tão raro e irrepetível.

Pessoas especiais, educam pessoas especiais.. eu acredito.
Livra-te!.. :)

Sara Almeida disse...

Não tenho dúvidas de nada daquilo que aqui me dizes, partilho exactamente da tua opinião quanto ao milagre que é dar a vida a um ser só nosso e fruto de nós mas não é disso que falo e sim do meu sentimento de independência.
Acredita em mim quando eu, mesmo com a idade que tenho, te digo que não tenho esse instinto de mãe, como a maioria das mulheres e jovens que adoram bébés e se divertem a imaginar o futuro com eles.
Vejo mais isto como um 6º sentido muito apurado, em que eu não me vejo a ter filhos mas me vejo a cuidar e a amar crianças pela ajuda que lhes posso dar enquanto ser humano.
Claro que não é altura para pensar nisto mas todas nós mulheres chegamos a um momento das nossas vidas em que inevitavelmente pensamos.
Quem sabe.. Um dia.. :)

PEdro disse...

"eu não me vejo a ter filhos mas me vejo a cuidar e a amar crianças pela ajuda que lhes posso dar enquanto ser humano."

é isso mesmo. também não penso no "divertido" que ter filhos poderá ser.
mais que um sentimento de mãe, há um sentimento como ser humano, que não é exclusivo dessa graça que é a de proteger e alimentar um ser humano desde o seu 1º segundo de existência.
é engraçado como, podendo viver +/- uns 80 anos, pelos 30 começamos já a preparar a nossa sucessão.

quando fores beber um café, tem atenção aos pacotes de açúcar.. "um dia vou ter um filho lindo". podes não te sentir preparada, mas sorri :)

Maria disse...

(tenho a tarde livre, sim. lá para as 18h tenho de ir andando para queluz, mas sim! e desculpa ser por aqui a resposta, mas estou sem saldo :P) beijo*